Retirado do Google
Por Beto Alves
Passada a campanha eleitoral, permanece
o fazer político. Esse não acaba, principalmente quando vem atrelado ao aspecto
sócio-econômico. Espanto-me com agressões movidas a negros, índios e
nordestinos. O que está acontecendo? É uma privação coletiva dos sentidos e do
bom-senso? Não encontro outra explicação, principalmente por me deparar com
tamanho desconhecimento da história política do Brasil. Estamos por aqui,
“estados evoluídos”, reproduzindo os mesmos feitos dos nossos irmãos “lá de
cima”, nas escolhas políticas.
Império e Coronelismo
É tradição no Nordeste, o comando político de
determinadas famílias. Hoje, essa situação se amenizou e os caciques políticos
perderam boa parte do seu prestígio, mas ainda assim, têm força.
Essa condução política é antiga. Uma das presenças
familiares mais fortes da nossa história está personalizada no poder da família
Cavalcanti, em Pernambuco, ainda durante o Império. O poder dos Cavalcanti era
fruto de sua vitória pelo poder que se formou durante o processo de
independência do Brasil. Sua influência foi tamanha, que durante a Revolução
Praieira, em 1848, tornou-se popular a seguinte quadrinha: “Quem viver em Pernambuco, há de
estar desenganado, ou há de ser Cavalcanti, ou há de ser cavalgado”.
Anos
mais tarde, após a Proclamação da República, essa condição personificou-se no
voto de cabresto. O controle exercido pelos coronéis do café manteve no poder, por
36 anos, os estados de São Paulo e Minas Gerais, na alternância de poder
conhecida como Política do Café-com-Leite. Aliás, abrindo um parêntese, nos
deparamos hoje com esses dois estados, maiores colégios eleitorais do país, que
não estão na região nordeste, ainda dando cartas políticas no Brasil.
Ainda durante a República dos Coronéis, foram comuns os
desmandos familiares. Sua maior proporção foi adquirida no poder dos Acioli, no
Ceará. Com o apoio do padre Cícero, conhecido como o coronel de saias, a
família Acioli comandou com pulsos de ferro o estado, levando o governo da
época a empreender a conhecida Política das Salvações para retrair o poder
dessas famílias, que suplantavam o poder do próprio Estado. A presença
religiosa do padre Cícero era um agente aglutinador desse poder, transformando-o
no que é hoje, mito que provoca uma das maiores romarias do país. Este fato não
é uma antiga mistura de política e religião?
Redemocratização
Em seu sistema republicano o Brasil viveu duas ferrenhas
ditaduras. A do Estado Novo Varguista, entre 1937 e 1945 e a dos militares. A
segunda, mais longa, estendeu-se de 1964 a 1985. Foram períodos duros e
atrozes, onde o centralismo e autoritarismo suplantaram o Estado Democrático de
direito, provocando terror, torturas e mortes, atreladas à coibição da
liberdade de expressão e de imprensa.
Conhecidos como coronéis pós-ditadura, José Sarney e
Antônio Carlos Magalhães também são representações familiares em seus estados,
respectivamente Maranhão e Bahia. ACM participou da ditadura, foi ministro das
comunicações no governo Sarney, um dos principais articulistas do governo FHC e
dos críticos mais ferozes dos primeiros anos do governo Lula. Já Sarney, tocou
a presidência com um plano diretor montado por Tancredo Neves. Tanto Sarney
quanto ACM foram do ex-ARENA (partido oficial da ditadura). Sarney se integrou
ao PMDB e ACM ao PFL (atual DEM). No governo Sarney, foi aprovada a lei que
passava concessão pública para TV e rádio, do presidente para o parlamento. Um
dia antes de entrar em vigor a lei, Sarney e seu ministro das comunicações,
ACM, fizeram cem concessões públicas para TV e rádio, a maior parte para a
Globo e suas afiliadas. E nessa linhagem veio Roseana, Luiz Eduardo, ACM Neto e
demais herdeiros.
Exemplo semelhante é o de Alagoas. O primeiro presidente
eleito pelo voto direto, pós- ditadura militar, Fernando Collor de Melo, teve
apoio da mídia, principalmente a Rede Globo, em sua eleição. Antes, havia sido
prefeito de Maceió, deputado federal, governador de Alagoas e após o impeachment,
em 1992, ficou inelegível por oito anos. Arnon Afonso de Farias Melo, pai de
Collor, foi governador de Alagoas e senador por três mandatos. O “pedigree” do
ex-presidente vinha de seu avô materno, Lindolfo Collor, que havia sido eleito
deputado federal pelo Rio Grande do Sul e ministro de Vargas. Fernando Collor
voltou à vida política como senador em 2006 e repetiu a dose em 2014. Este é um
foco do retrato político do Nordeste.
Entretanto,
tal prática de lá, talvez tenha servido de inspiração para cá.
Paremos
para refletir sobre o exemplo do Rio de Janeiro. Por aqui, o povo elegeu pai,
filhos e "espíritos santos" - entendam como quiserem -, sem nem mesmo
questionar. Antigos governadores do Rio deixaram seus filhos como
representantes no poder.
Existe
diferença do Nordeste?
Como
Pernambucanos no passado, estamos sendo cavalgados?
Dividir
o Brasil? Suplicar por uma nova ditadura? Não me parece uma atitude sensata dos
que blasfemam isso por aí.
Somos
imensos e com muitas diversidades latentes, mas como podemos comprovar, temos a
mesma linhagem, estudamos na mesma cartilha.
No mínimo,
se julgar melhor, é no máximo conflitar com o próprio irmão. Isso é muito
triste!