Fonte: Google
O GRITO
Edvar Munch
Há momentos na vida que temos a necessidade de decidir. Na
hora das decisões, muitas coisas são levadas em consideração, principalmente os
valores que temos. Lei ou Ética? O que levar em conta em primeiro lugar? Cumpro
a lei, mesmo que para isso
tenha que abandonar a ética, ou sou ético, mesmo que a lei me puna? O texto a
seguir levanta esse questionamento, baseado na vida de homem que fez sua
escolha pela Lei. Tire suas conclusões e reflita sobre seus próprios valores.
LEI E ÉTICA
Por Beto Alves
Quero iniciar meu texto desta semana, relatando uma
breve história:
“Adolf Otto Eichmann,
conhecido frequentemente como o executor-chefe do Terceiro Reich, foi
responsabilizado pela logística
de extermínio de milhões de pessoas, no final da Segunda Guerra Mundial
- a chamada "solução final"
(Endlösung) - organizando a identificação e o transporte de pessoas para
os diferentes campos de concentração.
Eichmann afirmava que não sentia dor na consciência por fazer aquilo, porque
estava cumprindo as leis do Estado Nazista. Não cumprir as leis era o que o
aborrecia”.
O fato
relatado serve para ilustrar uma
reflexão entre Lei e Ética, minha proposta neste texto.
O
interessante é que não me surpreendo com isso!
Existem
pessoas que são ótimas cumpridoras de leis e códigos, mesmo que para isso, passem
por cima da ética, tal como o caso citado acima.
Muitos
podem afirmar, que o caso de Eichmann é muito forte e que está distante das
questões legais que nos envolvem diariamente.
Pois eu
digo que não está.
Ferir com
uma simples palavra ou negar auxílio a alguém, pode ser tão avassalador quanto
enviar seres humanos para o extermínio, depende do ponto de vista e da vontade
de quem observa o caso. Até por que, em tese, o que está se questionando aqui,
não é a dimensão do ato em si, mas o fato da obediência cega à lei.
Eichmann
não questionava a lei que ele cumpria, apenas fazia, isso para ele já era
motivação suficiente. Não lhe vinha à mente, talvez, as consequências de seu
ato, bastava-lhe a sensação do dever cumprido, para sentir-se em paz consigo
mesmo e obediente com as regras, previamente estabelecidas.
Leis
precisam ser cumpridas, mas também questionadas, pois o fato é que elas, muitas
vezes, são injustas, inconsistentes e incoerentes em seu próprio sentido e no
âmbito em que são aplicadas. Cabe então, uma avaliação mais sensível e sensata
da forma de sua aplicação e até que ponto seu cumprimento cego, surdo e mudo, é
realmente relevante.
Neste
contexto é suscitada outra questão a ser levada em consideração, a Ética.
A Ética
requer um trabalho reflexivo, pois ela traz em seu próprio sentido uma
subjetividade que conduz à análise e ao questionamento do ato praticado.
Adolf
Eichmann foi um cumpridor passivo da lei, entretanto, foi ético?
Volto a
repetir a análise aqui, não está no tamanho da ação, nem no horror do fato.
Está sim, na opção feita. Na escolha dos valores que cada pessoa faz para si e
para quem está ao seu lado. Eichmann, como ser humano, tinha a opção de
escolha, ser um legalista frio e cego ou um indivíduo ético e autônomo. O
nazista Eichmann escolheu “vender sua alma” ao sistema e com isso se tornou um
obediente útil, enquanto existem outros, que não abrem mão de sua autonomia para
ser útil ao próximo, aos próprios ideais e não às leis.
O grande
fator que se estabelece neste contexto é a questão da punição.
A
desobediência à lei pode gerar consequências, e dentro desta perspectiva, está
a punição legal.
O fato de
ser antiético, não.
A punição
aí, não está prevista em lei, mas certamente, poderá, o que não foi o caso de
Eichmann, estar na própria consciência de quem age sem ética.
Outra
análise da mesma situação, é o fato de, muitas vezes, o pesar da consciência não
ter como agente motivador o “se colocar no lugar do outro”, mas sim, o
desconforto de “sentir na própria pele” o retorno do problema que causou. Este
é um ato egoísta e individualista, porém, muito comum.
Todos os
questionamentos levantados nos remetem a uma única questão, nossas escolhas.
O que
busco?
Cumprir
corretamente as leis estabelecidas sem questionar, como um verdadeiro “pau
mandado”, mesmo que para isso, tenha que ser antiético, mantenedor do status
quo, e, portanto, não sofrer punições.
Cumprir
as leis, mas analisar e questionar seus resultados, buscando a liberdade de
pensamento e de ação, de forma ética, mas podendo ser punido.
Obedecer
o voz de comando sempre é “ter juízo”? Ou ter autonomia para fazer juízo de
valor das ordens é a libertação da consciência?
Lembremos
sempre a Teoria do Efeito Borboleta, pequenas ações geram grandes resultados. Ambas
as situações tratadas aqui são passíveis disso, cabe a cada um, escolher a
diretriz desejada.