segunda-feira, 13 de outubro de 2014



 Por Denys Vassallo
 
Uma equipe brasileira desenvolveu uma nova técnica de cirurgia para implantação de eletrodos no cérebro de pacientes com Parkinson. A novidade, que diminuiu o tempo de cirurgia em até 40% e aumentou a segurança e a precisão do procedimento, recebeu um prêmio no Congresso Bi-anual da Sociedade Europeia de Neurocirurgia Estereotáxica e Funcional (ESSFN, na sigla em inglês), em setembro.
Trata-se de um projeto conjunto entre o Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês e o Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) liderado pelo neurocirurgião Erich Fonoff. O que sua equipe fez foi aperfeiçoar o método de implantação de eletrodos no cérebro, procedimento necessário para a terapia de estimulação cerebral profunda (ou DBS, na sigla em inglês).
 Nessa terapia, que já é aplicada no Brasil há vários anos em pacientes com Parkinson, uma região específica do cérebro passa a receber estímulos elétricos a partir de um “marca-passo” cerebral. Esse estímulo diminui alguns dos sintomas da doença, levando o paciente a ter maior controle sobre seus movimentos, por exemplo.
Até então, o implante dos eletrodos era feito separadamente em cada lado do cérebro. A equipe de Fonoff conseguiu desenvolver um mecanismo para fazer os implantes nos dois lados do cérebro simultaneamente.
 Durante a etapa da cirurgia em que os eletrodos são implantados, o paciente tem de permanecer acordado e interagindo com a equipe médica, que pode se certificar na hora se os estímulos elétricos naquela área do cérebro estão fazendo o efeito esperado.
 A diminuição do tempo dessa etapa cirúrgica de 35 a 40%, portanto, torna o procedimento menos penoso para o paciente. Além disso, a possibilidade de acessar os dois lados do cérebro ao mesmo tempo diminui o risco de imprecisões.
Movimentação do cérebro

“Quando se opera o cérebro, ele se movimenta. Quando se faz o segundo lado, portanto, existe uma dificuldade maior de se atingir o alvo, que é pequeno, devido à movimentação que o cérebro pode ter tido durante a operação do primeiro lado. A ideia desse trabalho é que se faça não só com que o tempo seja reduzido, mas também existe um potencial de que haja um aumento da precisão da cirurgia”, diz Fonoff.
 Para encontrar o lugar certo para se implantar os eletrodos, os cirurgiões recorrem a uma combinação de exames de imagem (ressonância magnética e tomografia) e de eletrofisiologia, em que se faz o registro da atividade do cérebro. “Cada região do cérebro tem uma assinatura fisiológica, os neurônios de cada parte do cérebro se comportam de uma maneira bem característica, o que permite localizar milimetricamente o local onde os eletrodos devem ser implantados”, observa Fonoff.
 Para conseguir operar os dois lados ao mesmo tempo, a equipe encomendou um equipamento especial a uma empresa brasileira para guiar o aparato que entra no cérebro do paciente.
Para Fonoff, trata-se de um aperfeiçoamento importante que pode, no futuro próximo, ser utilizado em muitos outros países.
Também fazem parte da equipe que desenvolveu o projeto os médicos William Omar Contreras, Angelo Azevedo, Raquel Chacon Ruiz Martinez, Jessie Navarro, Jairo Angelos e Manoel Jacobsen Teixeira. No Sírio-Libanês, o projeto foi financiado pelo Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS). No congresso ESSFN, a pesquisa foi premiada como o melhor trabalho pôster do evento.

 


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